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A Escravidão: Uma Tragédia Histórica e as Suas Implicações
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Publicado em 09/12/2024

Imagem da Capa: Composição incluindo The Slavery Market de Gustave Clarence Rodolphe Boulanger, 1882, coleção privada, via Art Renewal Center

 

A escravidão - prática social que permite a apropriação de um ser humano por outro - destaca-se como uma das maiores tragédias da história da humanidade. Desde os primórdios da civilização até os dias atuais, essa instituição opressora assumiu diferentes formas, moldando e destruindo sociedades ao longo dos séculos.  

Os registros mais antigos, provenientes de sociedades agrícolas da Mesopotâmia, mostram que a escravidão já fazia parte da estrutura social desde pelo menos o segundo milênio a.C. O famoso Código de Hamurabi, datado de cerca de 1754 a.C., estabelecia regras claras sobre a compra, venda e tratamento de escravos, refletindo a naturalização dessa prática. Prisioneiros de guerra, devedores e indivíduos nascidos na escravidão eram as principais fontes dessa força de trabalho.  

Na Antiguidade, as grandes civilizações como Egito, Grécia e Roma dependiam intensamente do trabalho escravo. Durante o auge do Império Romano, estima-se que um em cada três habitantes da Itália e um em cada cinco no restante do império fosse escravo. Essas pessoas sustentavam todas as esferas da economia romana: do trabalho agrícola e doméstico à construção de infraestrutura monumental. Esse sistema forjado na exploração humana consolidou o poderio romano, mas também plantou as sementes de tensões sociais que culminariam em revoltas como a liderada por Espártaco, um marco na resistência dos oprimidos.  

Na Idade Média, a escravidão assumiu formas variadas. O sistema de servidão, que vinculava legalmente camponeses à terra, caracterizou a Europa feudal. Embora tecnicamente diferentes, escravos e servos compartilhavam o destino de submissão aos senhores feudais. Paralelamente, nos impérios islâmicos e no Império Bizantino, a escravidão continuou como uma força econômica e social significativa.  

No entanto, foi durante a era da expansão marítima que a escravidão adquiriu uma escala global sem precedentes. Com Portugal e Espanha na vanguarda, iniciou-se o comércio transatlântico de escravos, uma das práticas mais cruéis da história humana. A partir do século XV, milhões de africanos foram capturados, transportados em condições desumanas e forçados a trabalhar em plantações nas Américas.

O Brasil tornou-se o principal destino desses escravos, recebendo cerca de 40% dos africanos traficados para o Novo Mundo.  

O modelo econômico das plantações, com destaque para o cultivo da cana-de-açúcar, consolidou-se como um pilar da economia colonial. Esse sistema, altamente lucrativo, dependia da exploração brutal de escravos africanos, que enfrentavam jornadas extenuantes e condições desumanas.

A viagem transatlântica, conhecida como "passagem do meio", ceifava inúmeras vidas antes mesmo da chegada ao destino final. Aqueles que sobreviviam eram submetidos a uma existência de trabalho árduo, punições severas e a negação de sua humanidade.  

Apesar dos lucros gerados pela escravidão, o sistema enfrentava desafios significativos, como doenças tropicais, rebeliões de escravos e conflitos com povos indígenas. Ainda assim, foi somente no final do século XVIII e ao longo do século XIX que movimentos abolicionistas começaram a ganhar força.

Portugal, pioneiro em condenar a escravidão indígena no Brasil em 1570, também proibiu o tráfico de escravos em seu território continental em 1761. No entanto, a prática persistiu por séculos nas colônias, com o Brasil sendo o último país do Ocidente a abolir a escravidão, em 1888.  

A abolição, contudo, não significou o fim das dificuldades para os ex-escravizados. Sem políticas de integração, muitos enfrentaram marginalização e pobreza, carregando o peso de uma herança de exclusão que persiste até hoje.  

A escravidão moderna, embora condenada globalmente, ainda resiste em formas como o tráfico humano, o trabalho forçado e a servidão por dívidas. Estima-se que milhões de pessoas vivam nessas condições, frequentemente invisíveis aos olhos da sociedade.  

Reconhecer a história da escravidão é essencial para a construção de uma sociedade justa. Os países lusófonos têm o desafio de enfrentar essa herança com políticas de reparação e igualdade racial. A inclusão do tema nos currículos escolares, a criação de museus dedicados à memória da escravidão e a valorização das contribuições culturais dos afrodescendentes são passos fundamentais nesse processo.  

A escravidão deixou marcas profundas no mundo. Compreender a sua história, enfrentar suas consequências e lutar contra suas formas contemporâneas são compromissos indispensáveis para a humanidade. Apenas reconhecendo as injustiças do passado e do presente será possível construir um futuro livre de opressão.

 

 

Opinião de António Cunha

 

 

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