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A Construção Geológica do Território Brasileiro
Muito antes das caravelas cortarem o Atlântico, o Brasil já era antigo. Tão antigo quanto as rochas que sustentam Salvador, os planaltos que desafiam o céu em Roraima e as florestas que respiram há milhões de anos. Cada baía, cada rio e cada povo contam uma história escrita não em papel, mas em pedra, pólen, ossos e memória.
Por António Cunha
Publicado em 20/12/2025 08:30
LUSOFONIA: História e Personagens

 

O Cráton Amazónico 

O Cráton Amazónico constitui a maior e uma das mais antigas unidades geológicas da América do Sul, desempenhando um papel estruturante na evolução tectónica, ambiental e biológica do território que hoje corresponde ao Brasil. A sua história geológica estende-se desde o Arqueano até ao Fanerozoico, caracterizando-se por longos períodos de estabilidade intercalados por episódios de acreção continental, magmatismo e deformação.

 

Nota Introdutória à Série “Povos soberanos Lusófonos

Os textos que compõem esta série são fruto de um extenso trabalho de pesquisa, reunindo informações de diversas fontes — algumas históricas e academicamente reconhecidas, outras baseadas em tradições orais que atravessaram gerações. O nosso objetivo é o de trazer a público uma leitura viva e acessível sobre personagens, acontecimentos e civilizações que marcaram a história, tentando equilibrar o rigor científico com o respeito à memória ancestral.

 

Sabemos, no entanto, que a História nem sempre é exata: pode conter lacunas, interpretações distintas e até equívocos inevitáveis. É possível que certas passagens despertem sensibilidades ou contrariem visões patrióticas. Por isso, convidamos o leitor a caminhar conosco neste processo de redescoberta — e, sempre que encontrar algo que julgue impreciso, fora de contexto ou inapropriado, que nos diga. O diálogo é parte essencial desta jornada de conhecimento e reconstrução da nossa memória coletiva. 

Formação Arqueana e consolidação inicial (≥ 3,0 Ga) [unidade de tempo usada em geologia e cosmologia para expressar idades muito antigas, como a formação de planetas ou rochas, onde "Giga" (G) representa um bilhão (em português do Brasil) ou mil milhões (em português de Portugal) (10^9) e "a" (an) indica anos, ou seja, 3.000.000.000 de anos. 3,0 Ga significa 3.0 Giga Anos]

As porções mais antigas do Cráton Amazónico remontam ao Arqueano, com idades superiores a 3,0 mil milhões de anos. Estes núcleos primordiais formaram-se através da cristalização de magmas graníticos e da metamorfização de sequências vulcano-sedimentares, originando complexos gnáissico-migmatíticos. Estes terrenos representam alguns dos primeiros continentes estáveis da Terra.

Facto comprovado: datações radiométricas U-Pb e Sm-Nd confirmam idades arqueanas extensas.

Evolução Proterozoica e acreção continental (2,5–0,54 Ga)

Durante o Proterozoico, o Cráton Amazónico sofreu sucessivos eventos de crescimento lateral, resultantes da colisão e sutura de terrenos juvenis. Estes processos deram origem a cinturões móveis como os de Maroni-Itacaiúnas e Rio Negro-Juruena. O magmatismo associado contribuiu para o espessamento crustal e para a estabilização definitiva do cráton.

Hipótese científica dominante: a acreção ocorreu por subducções sucessivas semelhantes às actuais margens convergentes.

Fanerozoico: estabilidade, erosão e sedimentação

Desde o início do Fanerozoico, o Cráton Amazónico manteve-se estruturalmente estável. A ausência de orogenias significativas permitiu o desenvolvimento de extensas superfícies de aplanamento e a acumulação de sedimentos nas bacias interiores, nomeadamente a Bacia do Amazonas.

As variações climáticas globais, em especial durante o Quaternário, influenciaram os sistemas fluviais e a dinâmica da floresta amazónica.

Implicações biológicas e humanas

A longa estabilidade tectónica do cráton favoreceu a persistência de ecossistemas antigos, contribuindo para a extraordinária biodiversidade amazónica. Para as populações humanas pré-coloniais, esta estabilidade traduziu-se em solos previsíveis, grandes redes hidrográficas e recursos abundantes.

Factos, hipóteses e limites do conhecimento

·       Factos: idades arqueanas confirmadas; existência de cinturões proterozoicos.

·       Hipóteses: modelos exactos de acreção ainda em debate.

·       Limites: cobertura sedimentar e florestal dificultam o acesso directo ao embasamento.


O Monte Roraima e o Escudo das Guianas: Tempo Profundo, Tepuis e Isolamento Biogeográfico

O Monte Roraima insere-se no Escudo das Guianas, uma das mais antigas províncias geológicas da América do Sul, partilhada por Brasil, Venezuela e Guiana. Esta unidade integra o Cráton Amazónico e distingue-se pela preservação excepcional de sequências sedimentares paleoproterozoicas, pouco deformadas, que testemunham ambientes continentais primitivos da Terra.

O Supergrupo Roraima (c. 1,9–1,7 Ga)

O Supergrupo Roraima é constituído predominantemente por arenitos quartzosos, conglomerados e intercalações pelíticas, depositados em extensos sistemas fluviais e lacustres durante o Paleoproterozoico. Estas formações assentam discordantemente sobre o embasamento cristalino arqueano do escudo.

Facto comprovado: datações isotópicas indicam idades próximas de 1,8 Ga para os sedimentos.

Génese dos tepuis: erosão diferencial e estabilidade tectónica

Ao contrário de cadeias montanhosas formadas por compressão tectónica, os tepuis — incluindo o Monte Roraima — resultam de processos prolongados de erosão diferencial. A elevada resistência dos arenitos quartzosos contrastou com a maior susceptibilidade das rochas envolventes, originando planaltos tabulares isolados.

A ausência de dobramentos significativos confirma a longa estabilidade tectónica regional desde o Proterozoico.

Evolução fanerozoica e modelação do relevo

Durante o Fanerozoico, oscilações climáticas, intemperismo químico intenso e variações do nível de base fluvial moldaram progressivamente as escarpas abruptas dos tepuis. O relevo actual é, assim, o resultado de milhões de anos de desgaste contínuo.

Isolamento biogeográfico e endemismo

O isolamento geomorfológico dos tepuis criou verdadeiras “ilhas ecológicas” em altitude, favorecendo processos evolutivos independentes. Numerosas espécies vegetais e animais são endémicas destes ambientes, constituindo um laboratório natural para o estudo da evolução.

Ocupação humana, simbolismo e tradição oral

Embora a ocupação humana permanente no topo dos tepuis seja limitada, povos indígenas como os Pemon e os Ingarikó atribuem profundo significado cosmológico ao Monte Roraima, interpretado como uma montanha sagrada associada à origem do mundo.

Tradições orais: narrativas cosmogónicas que descrevem o tepui como o tronco de uma árvore primordial.

Factos, hipóteses e limites do conhecimento

·       Factos: idade paleoproterozoica dos sedimentos; origem erosiva dos tepuis.

·       Hipóteses: ritmos exactos de erosão e paleoclimas associados.

·       Limites: difícil acesso e preservação ambiental restringem investigações directas.


A Chapada Diamantina e o Cráton do São Francisco: Dobramentos, Erosão e Recursos Minerais

Enquadramento geotectónico

A Chapada Diamantina integra o Cráton do São Francisco, uma das principais unidades cratónicas do Brasil oriental. Esta região constitui um testemunho privilegiado da evolução tectónica do Neoproterozóico, em particular dos processos associados ao Ciclo Brasiliano, responsável pela reorganização final do supercontinente Gondwana.

Sequências sedimentares e evolução proterozoica (1,8–0,6 Ga)

A base geológica da Chapada Diamantina é formada por espessas sequências sedimentares do Supergrupo Espinhaço, depositadas entre o Mesoproterozóico e o início do Neoproterozóico em ambientes fluviais, eólicos e marinhos rasos. Estes sedimentos assentam sobre um embasamento arqueano e paleoproterozoico do Cráton do São Francisco.

Facto comprovado: datações U-Pb em zircões confirmam a idade mesoproterozoica do Supergrupo Espinhaço.

O Ciclo Brasiliano e os dobramentos estruturais

Durante o Neoproterozóico, a colisão de blocos continentais no contexto da formação de Gondwana provocou a deformação compressiva das sequências sedimentares, originando dobras suaves, falhas inversas e soerguimentos regionais. Estes processos estruturaram o relevo fundamental da Chapada Diamantina.

Hipótese científica: a intensidade dos dobramentos variou conforme a proximidade das zonas de sutura brasilianas.

Fanerozoico: erosão, modelação do relevo e chapadas

Ao longo do Fanerozoico, a região foi dominada por processos erosivos prolongados, favorecidos por climas tropicais alternadamente húmidos e secos. A erosão diferencial entre arenitos resistentes e níveis mais frágeis originou chapadas, vales encaixados, escarpas e planaltos residuais.

Mineralizações e depósitos diamantíferos

A Chapada Diamantina tornou-se conhecida pela presença de depósitos diamantíferos secundários, resultantes da erosão de fontes primárias ainda debatidas. Os diamantes concentraram-se em aluviões e paleocanais fluviais, sendo explorados historicamente desde o século XVIII.

Facto comprovado: ocorrência de diamantes em depósitos aluvionares. Hipótese científica: existência de fontes kimberlíticas profundamente erodidas.

Implicações ecológicas e ocupação humana pré-colonial

A diversidade geomorfológica da Chapada Diamantina originou mosaicos ecológicos que favoreceram ocupações humanas antigas. Evidências arqueológicas indicam a presença de grupos caçadores-recolectores e, posteriormente, comunidades agrícolas adaptadas aos vales e planaltos.

Factos, hipóteses e limites do conhecimento

·       Factos: estrutura dobrada; depósitos diamantíferos secundários.

·       Hipóteses: localização exacta das fontes primárias de diamante.

·       Limites: erosão intensa removeu parte significativa do registo geológico original.


As Grandes Bacias Sedimentares do Brasil: Registos do Tempo e Recursos Naturais

As grandes bacias sedimentares do Brasil constituem estruturas geológicas de enorme relevância científica, económica e ambiental. Resultantes de longos processos de subsidência, sedimentação e reactivação tectónica, estas bacias preservam registos contínuos da evolução paleogeográfica, paleoclimática e paleobiológica do território ao longo de centenas de milhões de anos. A sua análise permite compreender tanto a dinâmica interna do planeta como as bases materiais que condicionaram a ocupação humana.

Do ponto de vista metodológico, as bacias sedimentares funcionam como arquivos estratigráficos, nos quais cada camada representa um intervalo temporal e um ambiente deposicional específico, permitindo reconstruções cronológicas rigorosas segundo princípios estratigráficos clássicos.

Enquadramento tectono-estratigráfico

As bacias sedimentares brasileiras desenvolveram-se maioritariamente sobre crátons estáveis (Amazónico e São Francisco) ou em contextos de margem continental passiva. A subsidência inicial foi controlada por factores térmicos e tectónicos, sendo posteriormente dominada por acomodação sedimentar e variações do nível do mar.

Distingue-se, neste contexto, entre: - bacias intracratónicas (Paraná, Parnaíba, Amazonas); - bacias marginais associadas à abertura do Atlântico (Santos, Campos, Recôncavo).

A Bacia do Paraná: cronologia e ambientes deposicionais

A Bacia do Paraná iniciou a sua formação no Ordovícico, com deposição de sedimentos marinhos rasos. Ao longo do Paleozoico, alternaram-se ambientes marinhos, deltaicos e continentais, culminando nos depósitos glaciários do Carbonífero-Permiano, testemunhos directos da glaciação gondwânica.

No Mesozóico, a bacia foi palco de extensos derrames basálticos da Formação Serra Geral, associados ao magmatismo fissural que precedeu a ruptura do Gondwana.

Facto comprovado: os derrames da Serra Geral constituem um dos maiores eventos de vulcanismo continental do Fanerozoico.

A Bacia do Parnaíba: estabilidade e preservação paleoambiental

A Bacia do Parnaíba caracteriza-se por uma evolução tectónica relativamente estável, com deposição sedimentar contínua desde o Silúrico ao Cretácico. Esta estabilidade favoreceu a preservação de fósseis vegetais e animais, bem como de extensos registos palinológicos, fundamentais para a reconstrução de climas passados no Nordeste do Brasil.

A Bacia do Amazonas: sedimentação e reorganização hidrográfica

A Bacia do Amazonas desenvolveu-se sobre o Cráton Amazónico, acumulando espessas sequências sedimentares desde o Paleozoico. Durante o Cenozóico, o soerguimento andino provocou a inversão progressiva do sistema de drenagem, estabelecendo o actual eixo fluvial leste.

Hipótese científica: a inversão da drenagem amazónica ocorreu de forma gradual entre o Miocénico e o Pliocénico.

Recursos naturais associados às bacias sedimentares

As bacias sedimentares brasileiras concentram recursos estratégicos de grande relevância económica, incluindo hidrocarbonetos, carvão mineral, aquíferos (como o Aquífero Guarani) e solos de elevada fertilidade derivados de rochas basálticas.

A distribuição destes recursos condicionou profundamente as rotas económicas, os padrões de povoamento e, mais tarde, os conflitos políticos e territoriais.

Implicações ecológicas e pré-condições para a ocupação humana

Os ambientes sedimentares criaram vastas planícies aluviais, sistemas lacustres e solos férteis, que se tornaram áreas preferenciais para a ocupação humana pré-histórica. A disponibilidade de água, fauna abundante e diversidade vegetal favoreceu estratégias de subsistência baseadas na caça, pesca e, posteriormente, agricultura incipiente.

Factos, hipóteses e limites do conhecimento

·       Factos comprovados: estratigrafia e extensão das principais bacias bem documentadas.

·       Hipóteses científicas: cronologia precisa de certos episódios de subsidência e inversão fluvial.

·       Limites do conhecimento: dificuldades de acesso e cobertura vegetal em áreas-chave.


A Margem Atlântica Brasileira e a Abertura do Oceano Atlântico Sul 

A Margem Atlântica Brasileira constitui uma margem continental passiva, cuja génese está directamente associada à fragmentação do supercontinente Gondwana e à separação progressiva entre as placas Sul-Americana e Africana durante o Mesozóico. Este processo representou uma das mais profundas reorganizações geodinâmicas da história da Terra e marcou de forma irreversível a configuração geográfica, geológica e ecológica do território brasileiro.

A compreensão da margem atlântica exige uma abordagem integrada, articulando tectónica de placas, magmatismo, sedimentação, variações do nível do mar e evolução climática.

O Gondwana e as pré-condições da ruptura continental

Durante o Paleozoico e o início do Mesozóico, o actual território brasileiro encontrava-se solidamente integrado no Gondwana Ocidental. Estruturas herdadas de orogenias proterozoicas condicionaram zonas de fraqueza crustal, que viriam a ser reactivadas durante o processo de rifteamento.

Facto comprovado: a correspondência estrutural e litológica entre margens conjugadas da América do Sul e de África.

O rifteamento mesozóico e a abertura do Atlântico Sul

Entre o Jurássico Superior e o Cretácico Inferior (c. 180–120 Ma), forças tectónicas extensivas provocaram o adelgaçamento da crosta continental, a formação de sistemas de rifte e intensa actividade magmática fissural. Este processo culminou na ruptura continental e no início da expansão oceânica, com a instalação de uma dorsal mesoatlântica activa.

O magmatismo associado encontra-se registado nos derrames basálticos da Formação Serra Geral e em intrusões ao longo da margem continental.

Formação e evolução das bacias marginais atlânticas

O rifteamento originou uma série de bacias sedimentares marginais, entre as quais se destacam as bacias do Recôncavo, Sergipe-Alagoas, Potiguar, Santos e Campos. Estas bacias evoluíram em três grandes fases:

1.       Fase de rifte continental, com deposição lacustre e fluvial;

2.       Fase de transição, marcada por evaporitos;

3.       Fase marinha, com sedimentação oceânica aberta.

A subsidência térmica prolongada permitiu a acumulação de espessas sequências sedimentares, fundamentais para a geração de hidrocarbonetos.

Factos, hipóteses e limites do conhecimento

·       Factos comprovados: abertura do Atlântico Sul no Mesozóico; carácter passivo da margem atlântica brasileira.

·       Hipóteses científicas: cronologia exacta e sincronia dos episódios iniciais de rifteamento.

·       Limites do conhecimento: estrutura profunda da crosta em sectores offshore ainda pouco conhecida.


As origens tectónicas do Brasil no contexto da Terra primitiva

O território que hoje constitui o Brasil assenta maioritariamente sobre o Cráton Sul-Americano, uma das porções continentais mais antigas e estáveis do planeta. As suas raízes geológicas remontam ao Arqueano (há mais de 2,5 mil milhões de anos), quando se formaram os primeiros núcleos continentais através do arrefecimento do manto terrestre e da consolidação de rochas ígneas e metamórficas.

Ao contrário de regiões marcadas por cadeias montanhosas recentes, como os Andes, o Brasil apresenta um relevo antigo, amplamente modelado por processos de erosão prolongados. Esta estabilidade estrutural não significa imobilidade absoluta: ao longo de centenas de milhões de anos, o território foi afectado por riftes, soerguimentos, subsidências e fracturações associadas à dinâmica das placas tectónicas.

Movimentação das placas tectónicas e a separação de Gondwana

Durante o Mesozóico, em particular no Jurássico e no Cretácico inferior, a fragmentação do supercontinente Gondwana marcou decisivamente a configuração do território brasileiro. A separação progressiva entre a Placa Africana e a Placa Sul-Americana originou extensos sistemas de rifteamento, acompanhados por actividade vulcânica e subsidência crustal.

Este processo não apenas conduziu à abertura do Oceano Atlântico Sul, como também criou bacias sedimentares interiores e costeiras fundamentais para a geografia actual do Brasil, incluindo as bacias do Recôncavo, de Santos e de Campos.


Regiões-Chave e a sua Génese Geológica

A Baía de Todos-os-Santos, Salvador e o Recôncavo Baiano

A Baía de Todos-os-Santos constitui uma das mais expressivas feições tectono-sedimentares da margem atlântica brasileira. A sua origem está associada ao rifte do Recôncavo-Tucano-Jatobá, formado durante a fase inicial da separação entre a América do Sul e África.

Os movimentos extensivos provocaram falhamentos normais, abatimento de blocos crustais e a criação de uma depressão preenchida por sedimentos continentais e marinhos. A região de Salvador assenta num bloco soerguido adjacente, constituído por rochas cristalinas do embasamento pré-cambriano, o que explica o contraste topográfico entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa.

Facto comprovado: a existência do sistema de falhas do Recôncavo. Hipótese científica: a influência de pulsos magmáticos profundos na subsidência diferencial. Tradições orais: narrativas indígenas que associam a baía à acção de entidades aquáticas primordiais.

A Baía de Guanabara e o Estado do Rio de Janeiro

A Baía de Guanabara resulta de um complexo sistema de fracturação e erosão diferencial sobre rochas cristalinas do Escudo Atlântico. O seu afundamento relativo ocorreu durante episódios tectónicos pós-rifte, combinados com variações do nível do mar ao longo do Quaternário.

Os maciços graníticos do Rio de Janeiro — como o Pão de Açúcar e o Corcovado — representam intrusões ígneas antigas, posteriormente esculpidas por intemperismo químico intenso em clima tropical.

O Monte Roraima e o Escudo das Guianas

O Monte Roraima integra o Escudo das Guianas, uma das áreas geológicas mais antigas da América do Sul. Trata-se de um tepui — planalto tabular — formado por arenitos do Supergrupo Roraima, depositados há cerca de 1,8 mil milhões de anos.

A sua morfologia actual resulta de erosão prolongada, não de orogenia recente. A altitude e o isolamento criaram ecossistemas únicos, com elevado endemismo.

A Chapada Diamantina

A Chapada Diamantina pertence ao Cráton do São Francisco e é constituída por sequências sedimentares dobradas e soerguidas durante o Ciclo Brasiliano (Neoproterozóico). Posteriormente, longos períodos de erosão originaram chapadas, vales encaixados e depósitos diamantíferos secundários.


 

Biogeografia Profunda e Paleoecologia do Território Brasileiro

A biogeografia profunda e a paleoecologia permitem compreender a distribuição actual da fauna e da flora brasileiras como resultado de processos geológicos, climáticos e evolutivos de longa duração. Antes da presença humana, o território que hoje constitui o Brasil passou por transformações ambientais profundas, registadas em fósseis, palinologia, geoquímica e padrões biogeográficos.

Paleozoico: vida marinha, florestas primitivas e glaciações

Durante o Paleozoico (c. 541–252 Ma), extensas áreas do actual território brasileiro encontravam-se cobertas por mares rasos. Registos fósseis indicam a presença de trilobites, braquiópodes e peixes primitivos.

No Carbonífero, o desenvolvimento de florestas de licófitas e fetos arborescentes contribuiu para a formação de depósitos de carvão, enquanto episódios glaciais deixaram marcas sedimentares sobretudo na Bacia do Paraná.

Facto comprovado: ocorrência de depósitos glaciários gondwânicos no Sul do Brasil.

Mesozóico: a era dos dinossauros e a fragmentação dos ecossistemas

O Mesozóico (252–66 Ma) marcou a diversificação dos répteis, incluindo dinossauros, pterossauros e grandes crocodilomorfos. Fosséis encontrados nas bacias do Paraná e do Araripe revelam ecossistemas continentais variados, desde desertos até ambientes lacustres.

A fragmentação do Gondwana promoveu isolamento biogeográfico, conduzindo a trajectórias evolutivas próprias da fauna sul-americana.

Cenozóico: florestas tropicais, savanas e megafauna

Com o fim do Cretácico, os mamíferos diversificaram-se amplamente. Durante o Paleogénico e Neogénico, consolidaram-se grandes biomas como a Floresta Amazónica, o Cerrado e a Mata Atlântica.

A fauna incluiu megamamíferos como preguiças-gigantes, mastodontes e gliptodontes, cuja extinção no final do Pleistocénico permanece tema de debate científico.

Hipótese científica: combinação de alterações climáticas e pressão antrópica inicial como causa da extinção da megafauna.

Evolução da flora brasileira

A flora brasileira resulta da interacção entre estabilidade cratónica, clima tropical e isolamento geográfico. A palinologia indica continuidade florestal na Amazónia durante períodos glaciais, intercalada por expansões savânicas.

Conexões biogeográficas continentais

Eventos como o Grande Intercâmbio Biótico Americano, após a formação do istmo do Panamá (c. 3 Ma), introduziram novas espécies no continente sul-americano, alterando profundamente os ecossistemas.

Factos, hipóteses e limites do conhecimento

·       Factos: registos fósseis e palinológicos amplamente documentados.

·       Hipóteses: extensão exacta das florestas durante períodos glaciais.

 

·       Limites: preservação fóssil desigual em ambientes tropicais.

 


 

Evolução da Fauna e Flora 

Desde o Paleozoico, o território brasileiro foi palco de profundas transformações biológicas. Florestas primitivas deram lugar a gimnospérmicas e, mais tarde, às angiospérmicas tropicais. A fauna acompanhou estas mudanças, culminando numa megafauna pleistocénica que incluía preguiças-gigantes, mastodontes e toxodontes.

 

A extinção desta megafauna, entre 12 000 e 9 000 anos atrás, permanece objecto de debate científico, envolvendo hipóteses climáticas e antrópicas.

 


Quando os primeiros humanos chegaram, não encontraram um vazio, mas um mundo exuberante e dinâmico — e aprenderam a dialogar com ele.

Referências Bibliográficas (Norma ABNT)

AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

BIGARELLA, João José. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. Florianópolis: UFSC, 2007.

NEVES, Walter A. O povo de Luzia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

PESSENDA, Luiz Carlos et al. Evolução ambiental do Brasil. Revista Brasileira de Geociências, v. 40, n. 1, 2010.

PROUS, André. Arqueologia Brasileira. Brasília: UnB, 1992.


 


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