Pesquisas de longo prazo levantam uma questão controversa: as nossas posições políticas podem estar associadas ao nível de inteligência?
O debate é polêmico e desperta paixões: afinal, pode a orientação política estar relacionada ao nosso quociente de inteligência? Várias investigações científicas realizadas nas últimas décadas em universidades da América do Norte e da Europa apontam nessa direção — embora não sem críticas.
Um dos estudos mais citados foi conduzido por pesquisadores da Brock University, no Canadá, e publicado na prestigiada revista Psychological Science. Os cientistas analisaram dados acumulados ao longo de meio século, envolvendo mais de 15 mil indivíduos. O método foi direto: compararam os níveis de inteligência medidos na infância com as posições políticas manifestadas na vida adulta.
A conclusão, que gerou ampla repercussão: indivíduos com menor capacidade cognitiva tendem a se alinhar a ideologias conservadoras, enquanto os de maior inteligência mostraram maior inclinação para visões progressistas. O estudo também sugere que crianças com desempenho intelectual inferior apresentaram maior probabilidade de desenvolver atitudes racistas e homofóbicas na idade adulta.
Entre a infância e a política adulta
Os dados incluem levantamentos britânicos de 1958 e 1970, que acompanharam crianças dos 10 aos 11 anos até a idade adulta, quando as suas convicções políticas foram identificadas.
“As habilidades cognitivas são cruciais para manter a mente aberta e formar impressões mais complexas das outras pessoas”, explicam os autores. “Indivíduos com menores capacidades tendem a buscar ideologias que preservam a ordem e a estabilidade, por fornecerem uma sensação de segurança.”
Críticas e controvérsias
Apesar do impacto, o estudo não escapou às críticas. Acadêmicos de fora da pesquisa argumentam que a relação entre inteligência, ideologia política e valores morais é complexa demais para ser reduzida a números. Outro ponto contestado é a generalização entre direita e esquerda feita pela mídia, quando os autores comparavam de modo mais direto “conservadores” e “progressistas”.
Curiosamente, os jornais britânicos com orientação mais conservadora praticamente ignoraram os resultados, enquanto o Daily Mail — jornal de grande circulação — deu destaque à pesquisa.
O peso da genética
A relação entre inteligência e ideologia também foi explorada em outra investigação, desta vez pela Universidade de Minnesota Twin Cities. Publicado na revista Intelligence, o estudo acompanhou mais de 200 famílias, incluindo irmãos biológicos e adotivos.
Através de testes de QI e marcadores genéticos (as chamadas pontuações poligênicas), os cientistas observaram que mesmo entre irmãos criados no mesmo ambiente, aqueles com indicadores mais altos de inteligência eram mais propensos a expressar visões liberais e igualitárias.
Limites da interpretação
Ainda assim, os próprios autores ressaltam: inteligência não determina, por si só, a orientação política. Cultura, ambiente social e contexto histórico exercem papel decisivo na formação de crenças. Ao longo da história, grandes pensadores inteligentes estiveram em polos opostos — de revolucionários libertários a líderes autoritários.
Em suma, as pesquisas indicam tendências, mas não verdades absolutas. A política, como a inteligência, é produto de forças múltiplas e interligadas.
Destaques
Números do Estudo no Canadá
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Mais de 15 mil pessoas analisadas
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Dados coletados durante 50 anos
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Conclusão: menor inteligência associada a visões conservadoras
O Fator Genético
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Estudo com mais de 200 famílias
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Incluiu irmãos biológicos e adotivos
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QI mais alto correlacionado a crenças liberais
⚖️ As Críticas
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Relação entre QI e política é complexa demais para simplificações
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Generalização entre “direita” e “esquerda” teria sido exagerada pela mídia
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Ambiente e cultura são tão importantes quanto a genética