Milhões de pessoas em todo o mundo vivem em condições habitacionais inadequadas, sem acesso a serviços básicos como água potável, saneamento, eletricidade e moradia segura, segundo dados recentes da Organização das Nações Unidas (ONU). E o quadro torna-se ainda mais alarmante quando se considera que cerca de 2,8 mil milhões / bilhões enfrentam algum tipo de inadequação habitacional, incluindo superlotação, construções precárias ou localizações de risco.
A insegurança habitacional é um fenômeno global, complexo e multifacetado. Vai muito além da falta de moradias: abrange situações como o risco constante de despejo, a informalidade urbana e a carência de políticas públicas eficientes. Está profundamente enraizada em questões econômicas, sociais e políticas, afetando desproporcionalmente as populações mais pobres.
Fatores Estruturais da Crise
Entre as principais causas da insegurança habitacional, os especialistas destacam:
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Pobreza e desigualdade econômica: Em muitas regiões, os baixos salários e o custo crescente de vida tornam a moradia adequada financeiramente inacessível. Com o aumento dos preços e salários estagnados, milhões são empurrados para habitações precárias.
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Políticas habitacionais inadequadas: Muitos governos falham em planificar a longo prazo. A ausência de estratégias eficazes e de investimentos sustentados em habitação social e infraestrutura urbana impede que a oferta acompanhe a crescente demanda.
Além disso, a urbanização acelerada agrava o cenário: estima-se que a maior parte do crescimento populacional nas próximas décadas ocorrerá nas cidades, pressionando ainda mais a já limitada capacidade urbana de abrigar novos residentes. A escassez de terrenos bem localizados, infraestrutura deficiente e a especulação imobiliária dificultam soluções sustentáveis.
Europa em Alerta: Comissão Europeia Promete Estratégia até 2026
A União Europeia está a tentar dar resposta à crise que afeta várias países do bloco. A 11 de julho de 2025, a Comissão Europeia lançou uma consulta pública sobre a falta de habitação acessível. O objetivo é apresentar, até à primavera de 2026, uma estratégia europeia para enfrentar a crise.
A escassez de habitação a preços comportáveis tem gerado crescentes tensões sociais em países como Portugal, Espanha, Alemanha e Países Baixos. A Comissão reconhece que o problema exige intervenção pública coordenada, envolvendo políticas urbanas, financiamento e legislação habitacional.
Portugal: “Situação Começa a Ficar Insustentável”, dizem Banqueiros
Em Portugal, a crise da habitação atingiu um novo patamar de preocupação. Agora, além dos alertas de movimentos sociais e de especialistas no setor, são os presidentes dos principais bancos a alertar para um cenário "insustentável".
Os banqueiros denunciam a falta de oferta habitacional como o maior entrave. Os preços continuam a subir e as medidas anunciadas pelo Governo português para apoiar os jovens na compra de casa são consideradas insuficientes — e até contraproducentes — na ausência de uma expansão real da oferta.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o preço mediano das habitações em Portugal aumentou mais de 60% na última década, sendo que em Lisboa e no Porto, muitos jovens já não conseguem viver nas suas cidades de origem.
Soluções Sustentáveis Requerem Mais do que Tijolos
De acordo com Anacláudia Rossbach, diretora executiva do ONU-Habitat, pensar a solução apenas como "construção de casas" é uma abordagem limitada. “Estamos muito restritos à simples provisão de unidades habitacionais. Isso, isoladamente, não é sustentável”, afirma.
Rossbach defende uma visão mais ampla, centrada em planificação urbana, políticas inclusivas e infraestruturas públicas. Para ela, enfrentar a crise requer também olhar para fatores como a regulação do turismo em áreas urbanas — que, mal gerido, contribui para a especulação e expulsão de residentes.
Caminhos para a Habitação Digna
Especialistas e organizações internacionais são unânimes: não há solução única ou imediata. No entanto, algumas medidas são apontadas como essenciais:
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Investimentos públicos em habitação social e infraestrutura urbana.
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Regulação eficaz do mercado imobiliário e da habitação turística.
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Combate à desigualdade socioeconômica e ao desemprego.
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Participação das comunidades locais na gestão urbana.
A crise habitacional é uma emergência silenciosa que afeta milhões, e ignorá-la apenas aprofundará os problemas sociais das próximas décadas. A moradia digna é um direito humano fundamental — e garantir esse direito é um passo crucial para a construção de sociedades mais justas, resilientes e inclusivas.
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