Por António Cunha
Numa era onde se exalta a juventude como símbolo de sucesso, beleza e inovação, o envelhecimento é frequentemente visto como um fardo. O idadismo — também conhecido como etarismo — é o preconceito baseado na idade, e afeta tanto os mais velhos quanto os mais jovens. Embora silencioso, esse tipo de discriminação está profundamente enraizado em algumas culturas com consequências graves, especialmente no campo da saúde mental.
O que é idadismo e como ele se manifesta?
O idadismo expressa-se por meio de estereótipos, exclusão social, desvalorização profissional e paternalismo. É comum ouvir frases como “você está muito velho para isso” ou “os jovens não têm experiência suficiente”, que reforçam barreiras invisíveis, mas poderosas.

Dados estatísticos alarmantes
Segundo o Relatório Mundial sobre o Idadismo da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada duas pessoas no mundo tem atitudes idadistas contra os mais velhos. Na Europa, um terço dos entrevistados relatou ter sido vítima de idadismo, com os jovens também a serem afetados significativamente.
Em Portugal, um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos revelou que 42% dos jovens entre 18 e 35 anos já se sentiram discriminados no trabalho devido à idade. Além disso, um terço dos portugueses relatou ter vivenciado discriminação moderada ou elevada por causa da idade.
O país enfrenta um desafio demográfico: por cada 100 jovens, existem 182 idosos, tornando Portugal o quarto país que envelhece mais rápido no mundo. Apesar disso, os indicadores de qualidade de vida após os 65 anos ainda estão aquém do desejável.
Impactos na saúde mental
Estudos recentes apontam que o idadismo tem efeitos diretos na saúde mental:
- Um estudo transnacional com 391 idosos revelou que 89% relataram sentimentos de desilusão, 81% zanga, 77% incompetência, e 68% ansiedade como consequências do preconceito etário.
- O idadismo está associado a um maior isolamento social, baixa autoestima, stress e desejo de abandono do trabalho, especialmente entre os jovens discriminados.
- A solidão e a sensação de irrelevância são fatores que contribuem para o declínio cognitivo e emocional em idosos, aumentando o risco de depressão e até de mortes prematuras.
Onde o idadismo é mais evidente?
- Ocidente: Países como os EUA, Reino Unido e Portugal apresentam altos índices de idadismo, com forte valorização da juventude e marginalização dos mais velhos.
- Oriente: Embora culturas como a japonesa e chinesa tradicionalmente respeitem os idosos, a ocidentalização tem enfraquecido aqueles valores.
- América Latina e África: Apesar de haver respeito cultural ancestral pelos mais velhos, a urbanização e o avanço tecnológico têm contribuído para o aumento do etarismo.

Políticas públicas eficazes contra o etarismo
Diversos países e instituições têm adotado medidas para combater o idadismo:
Portugal
- Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável: Inclui o combate ao idadismo como pilar estratégico, alinhado à Década do Envelhecimento Saudável da OMS (2021–2030).
- Revisão do Artigo 13.º da Constituição: Proposta para incluir a idade como fator explícito de proteção contra a discriminação.
- Campanha Nacional de Combate ao Idadismo: Iniciativas de sensibilização pública e educação intergeracional.
Brasil
- Projeto de Lei 3549/2023: Criação do Programa Nacional de Prevenção ao Etarismo nas Unidades Básicas de Saúde, com ações educativas, apoio psicológico e jurídico às vítimas.
- Guia de Orientações à Prevenção e Tratamento do Etarismo: Desenvolvido pelo Ministério de Portos e Aeroportos, promove ambientes de trabalho inclusivos e intergeracionais.
Ações afirmativas
- Valorização da senioridade em processos seletivos
- Promoção de equipes multigeracionais
- Campanhas de inclusão digital para idosos
- Rodas de diálogo intergeracional
Conclusão: Um chamado à ação
O idadismo é um preconceito que atravessa gerações e fronteiras. Os seus efeitos são reais, dolorosos e muitas vezes invisíveis. Combater o etarismo é mais do que uma questão de justiça — é uma necessidade para garantir o bem-estar psicológico, a inclusão social e a dignidade de todas as pessoas, independentemente da idade.
A mudança começa com a educação, políticas públicas eficazes e ações intergeracionais que promovam o respeito mútuo. Afinal, envelhecer é um privilégio, não um problema.
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