Para ler antes da leitura do artigo
Falar sobre religião é, por natureza, delicado. As crenças religiosas estão entre os pilares mais profundos da identidade humana — e por isso, este tema pode gerar polémica, discordância e até mal-entendidos. Mas é precisamente por isso que ele deve ser abordado com seriedade, respeito e rigor.
Esta série de artigos foi construída com base em fontes académicas e históricas reconhecidas, procurando evitar ao máximo opiniões pessoais. Ainda assim, reconhecemos que interpretações podem variar, e eventuais incorreções podem surgir. Por isso, convidamos o leitor a participar: se identificar algo que mereça correção, por favor indique claramente onde, quando e porquê.
Mais do que uma análise teológica, esta reportagem pretende ser um exercício de formação de cultura geral. É dirigida ao público em geral, com linguagem que pretendemos seja acessível, e tem como objetivo estimular a reflexão crítica sobre o papel das religiões — enquanto fenómenos filosóficos, sociais e espirituais — na evolução da humanidade.
Num mundo cada vez mais plural, é essencial aprendermos a respeitar as diferenças religiosas e culturais. Não precisamos concordar com tudo, mas precisamos compreender. E compreender é o primeiro passo para conviver em paz.

O islamismo é a mais recente das grandes religiões monoteístas, surgida no século VII d.C. na Península Arábica. Com mais de 1,9 mil milhões de seguidores, é uma força espiritual, cultural e política que moldou civilizações inteiras. No centro da fé islâmica está o Alcorão, considerado pelos muçulmanos como a palavra literal de Deus (Alá) revelada ao profeta Maomé (Muhammad). Este texto procura alcançar as origens históricas e culturais do islamismo, os textos que compõem o Alcorão, os povos e personagens envolvidos na sua criação e evolução, e as principais versões que o marcaram.
1. O Contexto Histórico
O islamismo surgiu na Península Arábica, numa sociedade tribal, politeísta e marcada por desigualdades sociais. As cidades de Meca e Medina (ambas na atual Arábia Saudita) eram centros comerciais e religiosos, com santuários dedicados a múltiplas divindades, incluindo a Kaaba, que já era local de peregrinação.
Maomé nasceu em Meca por volta de 570 d.C., numa época de intensas disputas entre tribos árabes e crescente influência do Império Bizantino e do Império Sassânida (persa). Aos 40 anos, começou a receber revelações que denunciavam a idolatria, a injustiça social e convocavam à submissão total a um Deus único — Alá.
2. O Alcorão: Texto Sagrado e Fundacional
O Alcorão é composto por 114 suras (capítulos) e mais de 6.000 versículos, revelados ao longo de 23 anos. Os temas abordam:
- Monoteísmo absoluto: Deus é único, eterno, misericordioso e soberano.
- Ética e justiça: caridade, respeito aos pais, honestidade, compaixão.
- Lei e sociedade: regras sobre casamento, comércio, guerra, herança.
- Histórias de profetas: Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus — todos reconhecidos como mensageiros de Deus.
- Escatologia: julgamento final, paraíso e inferno.
3. Textos Incorporados e Influências Culturais
Embora o Alcorão seja considerado pelos muçulmanos como revelação divina, estudiosos identificam influências e paralelos com outras tradições:
- Torá (judaísmo): narrativas de Moisés, Abraão, e leis morais.
- Evangelhos (cristianismo): reconhecimento de Jesus como profeta e de Maria como figura sagrada.
- Zoroastrismo (persa): ideias sobre juízo final, anjos e dualismo espiritual.
- Tradições árabes pré-islâmicas: poesia, genealogias e práticas sociais.
Além do Alcorão, o islamismo é sustentado por:
- Hadith: coleções de ditos e ações do profeta Maomé, fundamentais para a jurisprudência islâmica.
- Sira: biografias do profeta.
- Tafsir: comentários e interpretações do Alcorão.
4. Povos e Culturas Envolvidos na Formação do Islão
- Árabes da Península: primeiros receptores da revelação e transmissores da fé.
- Persas: influenciaram a teologia, filosofia e misticismo islâmico.
- Bizantinos e cristãos orientais: forneceram modelos de organização religiosa e textual.
- Judeus e cristãos: presentes em Medina, influenciaram o diálogo inter-religioso inicial.

5. Personagens-Chave na Compilação e Transmissão
- Maomé: profeta e mensageiro, cuja vida e palavras são inseparáveis do Alcorão.
- Zayd ibn Thabit: escriba que liderou a compilação do Alcorão após a morte de Maomé.
- Califa Abu Bakr: ordenou a primeira compilação escrita.
- Califa Uthman ibn Affan: padronizou o texto e ordenou a destruição de versões divergentes, criando o Alcorão Uthmânico, base das versões atuais.
6. Versões e Leituras do Alcorão
Ao contrário da Bíblia, o Alcorão tem uma única versão canónica, mas admite leituras variantes (qira’at), que diferem em pronúncia e vocabulário, sem alterar o significado essencial.
- Alcorão Uthmânico: versão oficial, preservada em árabe clássico.
- Traduções: embora o texto original seja considerado insubstituível, há traduções para centenas de línguas, como o Alcorão em português (Samir El Hayek, Helmi Nasr).
- Tafsir: comentários teológicos e jurídicos que acompanham o texto, variando conforme a escola (sunita, xiita, sufista).
O Islão como Síntese Espiritual e Cultural
O islamismo é uma tradição que nasceu da experiência espiritual de um homem num deserto, mas que rapidamente se tornou uma civilização global, influenciando profundamente a ciência, a arte, a política e a espiritualidade. O Alcorão, como texto fundacional, é mais do que um livro — é uma bússola ética, jurídica e metafísica para milhões de pessoas.
Compreender as suas origens é essencial para entender o papel do Islão na história da humanidade — e para promover o diálogo entre culturas e religiões.
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